quarta-feira, 23 de março de 2011

Shiva Nataraja

Na tradição hindu, Shiva é o deus "Destruidor" e faz parte da trimurti (trindade, ou manifestação tríplice), juntamente com Brahmâ (o Criador) e Vishnu (o Preservador). Shiva destrói para construir algo novo, motivo pelo qual muitos o chamam de "Renovador" ou "Transformador". Shiva é muitas vezes representado como Nataraja: o Rei ou Senhor da Dança (Nata = dança, Raja=Rei, Senhor, Mestre), que, através da sua dança cósmica, destrói toda a ignorância, liberta o homem da ilusão, e a transforma em iluminação. A origem do Yoga, prática que produz transformação física, mental e emocional é, desta forma, atribuída a Shiva, e este é o deus ou a força inspiradora dos yogis. Existe uma lenda que conta que Shiva veio tentar subjugar os rishis (homens santos que viviam junto da floresta) e remover a sua ignorância. Os rishis, zangados, conduziram uma cerimónia para destruir Shiva. Do fogo sacrificial surgiu um tigre, mas Shiva retirou-lhe a pele e cobriu-se com ela. Depois surgiram cobras, mas Shiva domou-as e colocou-as como guirlanda ao redor do pescoço. Por fim veio um demónio em forma de anão, que Shiva pisou, dando início à dança cósmica. A forma de Shiva Nataraja manifestou-se com o brilhante desempenho da sua dança, a que os rishis se renderam, aceitando Shiva como seu mestre. Esta dança de Nataraja, designada de Tandava, revela Shiva como força motriz do Universo e representa as suas cinco actividades: Criação (simbolizada pelo tambor, cujo som cria o Universo), Protecção (pelo gesto da mão que dá a benção), Destruição (pelo fogo, que queima a ilusão), Incorporação da ilusão / Obscurantismo da alma (pelo pé que pisa o anão, demónio da ignorância) e Libertação (pelo pé erguido no ar, que liberta as almas da ilusão). Apesar dos seus movimentos serem dinâmicos, como se vê pelos braços, pernas e cabelos esvoaçantes, Shiva Nataraja permanece com olhos serenos, olhando internamente, numa atitude meditativa. A dança de Shiva representa, assim, dois aspectos opostos: o arquétipo dançarino e o arquétipo asceta. Por um lado é a actividade intensa, a energia vital, frenética e agitada, por outro lado é a tranquilidade total absorvida pelo Absoluto, onde todas as tensões se dissolvem. Om Namah Shivaya (“inclino-me perante Shiva” ou “inclino-me perante o meu divino ser interior”). Joana Menano

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